quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018
FABIANO
NEGRI – THE LONELY ONES Álbum – Resenha
O
Artista Maldito não tem opção senão oferecer ao mundo a verdade
de sua ARTE.
Ele
havia acabado de lançar um novo EP intitulado “When nothing is
right, everything is possible”. E aí a VIDA acontece… Ou neste
caso mais específico, a MORTE.
Profundamente
abalado com os acontecimentos recentes em que tantos grandes Artistas
findaram suas próprias existências – KEITH EMERSON, ROBIN
WILLIAMS, CHRIS CORNELL, CHESTER BENNINGTON, para citar apenas alguns
– FABIANO NEGRI num arroubo de coragem resolve abordar este drama
da forma mais simples e direta possível: sua criatividade, voz & seis cordas. Algo que simbolicamente o próprio Chris (Cornell) havia
feito no ano de 2011, tão perto de nós, no Festival SWU em
Paulínia, onde subiu ao palco num nostálgico fim de tarde munido
apenas de sua ALMA acompanhada por mais um músico (de certo ponto em
diante) & cordas ( as vocais + as de aço ) e repassou toda sua
carreira num set acústico relativamente curto mas que me tocou
levando-me às lágrimas por mais da metade do show.
Quando
soube ( através do TWITTER oficial do próprio Músico ) que o
multi-instrumentista Negri estava criando um Álbum inteiramente
acústico, fiquei intrigado logo de cara. Ainda mais porque tal
trabalho abordaria um tema espinhoso porém essencial – solidão,
distanciamento, inadequação, suicídio. Tabus já que as pessoas
ditas ‘normais’ nesta ‘sociedade’ doente em que estamos
inseridos fingem que a depressão agravada por este mundo insano não
existe como a verdadeira epidemia que é, preferindo perpetuar
futilidades, pós verdades e vidas vazias mentirosas e vigoréxicas
de fagbook…
Desde
tenra idade tive a sorte ( e o privilégio ) de travar contato –
graças a um irmão mais velho extremamente generoso e de bom gosto
equivalente – com uma maravilhosa pletora de Músicos cuja
expressividade na guitarra acústica ( chamada comumente no Brasil de
violão ) os destacava fôsse no Folk, Pop, Rock. Assim nascia minha
admiração e amor pela Arte de JIMMY PAGE, Os STEVEs ( HOWE /
HACKETT ), DAVID GILMOUR…
Posteriormente,
por conta própria, expandi tal admiração com o trabalho de NICK
DRAKE, SLASH, MALMSTEEN, NUNO BETTENCOURT, Os CHRISSes ( OLIVA /
CORNELL ), mais STEVEs ( VAI / STEVENS / MORSE ), SAMBORA… enfim.
Uma LONGA lista de talentos superlativos.
Curioso
é que “The Lonely Ones” me arrebate exatamente num momento em
que repasso toda a história de Master PAGE como Produtor /
Compositor ( NOTA: Fabiano NÃO sabia disso quando me enviou o ‘rough
cut’ do disco solicitando minha opinião, honra aliás reservada a
mim em tudo o que realiza de uns bons anos para cá & que me
enche de orgulho, como melômano, seguidor de sua obra & ser
humano all the same ). Portanto, traçar paralelos entre Page & Negri ( como principais forças criativas em suas respectivas bandas,
LED ZEPPELIN & REI LAGARTO ) é inevitável. Uma ‘ZEP vibe’
perspassa todo o trabalho, mas não se deixem enganar: este ‘Lonely
Ones’ é 100% pure Fabiano Negri, o máximo possível e não
poderia ser diferente em se tratando de um Artesão do Som com
tamanha seriedade & ÉTICA concernendo seu trabalho desde sempre.
&
não se enganem mais uma vez, folks: criar num ambiente sonoro
acústico não é absolutamente nenhuma novidade para Negri. O
próprio Show de lançamento do novo EP este ano foi um set acústico
e intimista para amigos & admiradores. Quanto a este assunto,
citarei apenas uma história real ( que poucos sabem ) quando da
gravação de seu “The MINSTER SESSIONS” ( que Fabiano,
espirituoso, chama jocosamente de ‘brincadeira divertida’ mas que
EU como analista / amante de MÚSICA chamo de OBRA PRIMA insofismável
) anos atrás, um EP de tributo com covers de canções / Artistas
que marcaram sua carreira, entre elas uma elegia para RAY GILLEN (
google it: Vocalista, Badlands, etc ) “IN A DREAM”. Não somente
a canção citada é para mim uma de suas grandes performances vocais
de todos os tempos , como foi gravada, voz & violão, num só
take pelo ‘fiél escudeiro’, seu amigo & ‘Kevin Shirley’
pessoal, RICARDO PALMA ( do Estúdio MINSTER – daí o título do
disco - na cidade de Campinas, terra natal de Negri ). Aí a prova
indiscutível da intimidade & grandeza de Negri com o universo da
música acústica.
Quem
me conhece verdadeiramente sabe o quanto a ARTE é vital para mim e a
seriedade e ansiedade com que aguardo trabalhos de Artistas que me
tocam em qualquer área ( e isto obviamente inclui NEGRI ). Como FÃ,
admirador e ( talvez até quem sabe, assim como BRAD TOLINSKI está
para a de Master PAGE ) estudioso de sua obra, pode – se imaginar a
expectativa que nutria por “THE LONELY ONES”.
Com
este Álbum ( que em relação a “When nothing is right...” de
2017 está como o LED ZEP para o II - ou III... ) Fabiano insere –
se definitivamente na grande tradição dos melhores guitarristas
acústicos da história, de John McLaughlin a Jerry Cantrell. Negri é
um daqueles intérpretes / compositores iluminados pela chama da
criação ( e, tenho certeza, ele gostará da analogia, já que
‘flames’ são certamente um de seus temas recorrentes = ).
Assim
como Page nos tempos áureos do LED ZEP ( dois Álbuns em menos de um
ano era algo recorrente para a Banda ) & ou JOHN PETRUCCI (
projetos paralelos como o Liquid Tension Experiment & ou G3
correndo lado a lado com o DREAM THEATER ), Negri nunca deparou –
se com bloqueios criativos ou falta de inspiração. Muito pelo
contrário: no caso dele (s), difícil é fazer cessar o evenflow de
grandes ideias, provando que ( como todo grande músico ), brilhar
como uma Supernova independe de gimmicks, equipamento & ou
estratagemas que reduzem ARTE a indústria / produto.
Pois
na minha 1a
privilegiada audição de ‘The Lonely Ones’, a epopéia intimista
e totalmente acústica me causou emoções semelhantes às daquele
acoustic set único & memorável de Cornell sob a garoa fina do
SWU há algum tempo atrás…
“DISTANT
SHORE” faz a abertura da obra, que apesar do tema profundo
estabelece um alto astral e uma energia boa & positiva ( que
serve de certa forma como termômetro para todo o disco ). Outro
ponto de vital importância: Fabiano é um dos grandes Letristas do
ROCK não só contemporâneo mas ( em minha opinião ) de todos os
tempos, junto a nomes como os de DANI FILTH, JON OLIVA, JIM MORRISON,
FERNANDO RIBEIRO… “Fools multiply when wise men are silent”,
ouvimos / lemos logo de cara; um dos muitos exemplos de excerpts
geniais deste lyricist
igualmente dotado.
E
seguindo ( outra ) tradição de grandes Gênios do gênero ( como
ROGER WATERS & PETE TOWSHEND, citando apenas alguns dos mais
célebres ), um idealizador incansável de Álbuns conceituais ( como
“Z.3.R.0.” & este aqui analisado ) & Óperas Rock ( como
“CURSED ARTIST”, trabalho intenso do mesmo a ser lançado
provavelmente em 2018 ). E é isto com que ele nos brinda em “The
Lonely Ones”: um conceptual album que narra a trajetória de um
indivíduo da inadequação inicial até as trágicas consequências
finais. Há um personagem central, claro, mas há muito mais – o
conceito ( e Negri esforçou – se em captar as nuances necessárias
) que serve para definir ( ao menos tentar ) o que se passa na cabeça
e alma de pessoas em tormento, enfrentando a dor, depressão,
bipolaridade e todas as facetas / externalizações das mesmas.
A
1a faixa nas palavras do próprio músico: “Uma infância
problemática. Por ser diferente do resto, o menino é sempre
colocado de lado por viver em uma ‘costa distante’”.
Não
nos esqueçamos que este é o Artista que se notabilizou como não só
Vocalista de uma das Bandas mais importantes do Rock no Brasil ( o
Rei Lagarto já mencionado anteriormente ) mas também em uma já
extensa ( e prolífica ) carreira solo. Por isso necessário destacar
não somente as belíssimas melodias no violão & ou as letras
inspiradas, mas também a voz em faixas como a 2a,
“LAST STAND”, com uma pegada de Blues do Delta, Fabiano fazendo
uso de empostações mais graves e sons reminiscentes até mesmo do
BLACK SABBATH ( o que faz todo sentido em sendo uma de suas maiores
influências E sua Banda do coração:
“Everyday
the pain is shed
One
more life is now gone
&
the music disappears
Like
rain
Like
the rain that came when a good man disappeared”
Ver
também a letra da 9a faixa “Morning Rain” ) e
a 3a,
“LOST STRANGERS” ( onde segundo a ideia de Negri, o personagem,
já um jovem, desenvolve sinais de esquizofrenia, conversando com um
amigo imaginário ).
Único
senão a ser apontado por & para mim está em “BEHIND THE SUN”,
onde acho que letra, melodia e linhas vocais parecem seguir em
estradas paralelas mas que não convergem a contento, destoando do
clima ‘overall’ perfeito deste disco conceitual.
A
faixa que se segue, “ALL THOSE MINDS”, segundo palavras do
próprio Artista, representa a fase adulta de negação & ódio
contra tudo e todos. Com um flavor Zeppeliniano nas cordas e a marca
vocal inconfundível de Fabiano, esta, assim como “Lost Strangers”
( que tem um clima Seattle para mim irresistível ) talvez as faixas
que possuem o DNA, vamos por assim redigir, mais explícito do Músico
e certamente destaques por si só.
“Day
after day” tem temática sombria ( é a
primeira
tentativa & bilhete
suicida,
sem sucesso; EU, como
veterano de duas tentativas felizmente não consumadas, me
identifico. Abaixo um excerpt da bela letra):
Denunciar esta mensagExcluir esta mensagem"Can we unlock the door that keeps us apart,
Will
we ever see this segregation disappear?
How
many miles do we have to walk to believe in the real truth?
How
many more sacrifices, to learn how to walk together?”
Também
destaca - se “RAPED”, que me impressionou logo de cara. Uma
canção que do título até a última nota te arrebata e cresce
dentro de nós a cada audição. De uma simplicidade, profundidade e
verdade extraordinárias. Ouso escrever, a melhor de ‘The Lonely
Ones’ ( SE Fabiano não deixasse inteligentemente o ‘gran finale’
para a última faixa). Para os que talvez não possam entender sua
letra na totalidade, o que “Raped” expressa é a
situação daquele homem que perde o controle, estupra uma mulher &
a conversa do mesmo ( totalmente fora de si ) com ela, que por sua
vez sente -se como se a vida tivesse terminado, angustiada com a
violência & o julgamento que a dita sociedade fará dela dali
por diante. Uma faixa forte, com um lamento vocal da parte de Negri
em determinado momento que causa arrepios em minha espinha… Só
poderia mesmo ser a faixa #7 ( quem acredita em numerologia &
bobagens afins como EU, Jimmy Page & Steve vai sabe bem o porquê
).
Um
clima mais ameno ( nem por isso menos importante ) traz a 8a
faixa “BAD LOVE SONG”, mas não a letra, contundente
(
com sentenças preciosas como
“The
world knows how to hurt the lonely ones,
Everything
could be easy as write one more bad love song” ) que direciona para
o ambiente sonoro de “MORNING RAIN” - uma petit masterpiece de
pouco menos de 3 minutos, onde o título lúdico e a voz doce de
Fabiano são molduras para um dos atos mais fortes & discutíveis
de um ser humano: o suicídio.
Será
que Deus enxerga a todos da mesma forma ou estamos numa grande
mentira? Com esta máxima metafórica, Fabiano conclue o Álbum de
maneira fortíssima e pungente. Talvez a mais Zeppeliniana, talvez a
melhor deste – mas certamente “LET THERE BE LIFE”, derradeira
composição de ‘The Lonely Ones’, é A mais bela interpretação
e a performance mais emocionante deste Mestre até hoje. Um Vocalista
no auge de sua capacidade e em pleno domínio da técnica. Porém não
nos esqueçamos do mais importante, aquilo que é realmente vital –
transbordando sentimento e alma e ( como sempre acontece com este fã
aqui em relação a seus vocais mais virtuosos e inspirados como “In
a Dream” & ou “The
Apple & The Beast”
) fazendo nossas almas
chorarem...
“There's
a river with those lives, they said
In
this River that Beggars call home
Let there be LIFE again
LORD,
let there be life again”.
“THE LONELY ONES” é o
projeto mais despojado e sincero deste ‘wizard’ incansável da
música e prova irrefutável de que sua mágica está mais forte do
que nunca.
Os
solitários agradecem de corpo & ALMA.
DEUS abençoe FABIANO NEGRI.
P.S.: Agora fica o desejo e a
expectativa de ver ( & ouvir ) uma parceria em composição,
estúdio, shows, whatever, dos Pistoleiros mais rápidos, hábeis e
talentosos destas wastelands de Campinas: um projeto conjunto
acústico ÉPICO de FABIANO NEGRI & JAMES TWIN, duo que fronteou
o grupo Rei Lagarto por anos, remetendo aos grandes momentos de PAGE
+ PLANT – um ‘NO QUARTER Unlizzed’?
Não custa nada sonhar…
Um
fã cujo Ábum favorito do LED ZEP ( & um de meus all time fave
também ) é o Volume III agradece.
Leonardo Mattar Monteiro
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